A pandemia de Covid-19 teve impacto significativo em todos os setores da economia global, incluindo o mercado de crédito de carbono. Com a diminuição da atividade econômica em muitos países, a demanda por créditos de carbono caiu em 2020, mas em 2021 houve um aumento significativo da demanda. O segmento é diretamente influenciado pelas emissões de gases de efeito estufa, que foram drasticamente reduzidas durante a pandemia. Com a retomada das atividades, é esperado que a demanda por créditos de carbono aumente.
De acordo com um relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, as emissões no mundo todo despencaram em quase 7% devido à pandemia de Covid-19. Nos Estados Unidos, caiu 12%, na Europa, 11%, mas na China, a redução foi de apenas 1,7%, porque a redução na produção da indústria não foi tão grande quando em outros países. De acordo com o projeto Carbono Global, formado por cientistas de vários países, a redução se deve pelo fato das pessoas ficarem em cassa e viajarem menos de avião e de carro. O impacto dessa redução se dá porque o setor de transporte representa muito pelo uso de combustíveis fósseis. Os veículos terrestres representam um quinto das emissões de dióxido de carbono.
A recuperação, no entanto, vem se mostrando considerável. Segundo a organização internacional Climate Neutral Group mostrou que a queda na demanda em países da Europa e nos Estados Unidos projeta que a recuperação em 2023 seja de 15%, impulsionado pelo aumento de políticas ambientais em todo o mundo.
Essa demanda crescente se deve em grande parte às empresas que procuram compensar suas emissões de carbono. Com a pressão crescente para reduzir a pegada ecológica e alcançar metas de emissões zero, muitas empresas estão comprando créditos de carbono como uma forma de mitigar suas emissões. Um exemplo disso é a Microsoft, que anunciou em janeiro de 2021 que pretende ser neutra em carbono até 2030. Para atingir a meta, a empresa planeja reduzir suas emissões internas e compensar as emissões restantes através da compra de créditos de carbono.
Além disso, a União Europeia (UE) tem um objetivo ambicioso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030 em relação aos níveis de 1990. Como parte disso, a UE está aumentando seu sistema de comércio de emissões de carbono e introduzindo um imposto sobre o carbono para as empresas.
No Brasil, a demanda caiu cerca de 20% em 2020, auge da pandemia, mas no ano seguinte registrou um aumento na procura de empresas querendo compensar suas emissões de carbono, de acordo com análises da plataforma de negociação de crédito de carbono CBL Markets.
A alta no desmatamento no ano passado, em especial na Amazônia, pôs o Brasil na contramão do planeta e o deixa em desvantagem no Acordo de Paris. É o maior montante de emissões desde 2006. Com o aumento da emissão e a queda de 4,1% no PIB, o Brasil ficou mais pobre e poluiu mais: 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2020, contra 1,97 bilhão em 2019, maior nível de emissão do país desde 2006.
A Associação Brasileira de Crédito de Carbono (Abcarbon) vem acompanhando com atenção as movimentações de mercado e está de olho nas oportunidades que estão surgindo para impulsionar a demanda por créditos no país. Uma das razões para esse aumento é a recente ratificação do Acordo de Paris pelo Brasil. O país se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, com possibilidade de chegar a 43% até 2030. Para alcançar essas metas, o país precisará aumentar significativamente a demanda por créditos de carbono.
Além disso, empresas brasileiras estão cada vez mais preocupadas com a sustentabilidade e a mitigação dos impactos ambientais. O uso de créditos de carbono é uma das maneiras de alcançar esses objetivos e, ao mesmo tempo, promover ações positivas para o meio ambiente.
A pandemia pode ter afetado significativamente o mercado de créditos de carbono em 2020, mas apontou também caminhos importantes com a volta da procura global por créditos. A Abcarbon vem trabalhando em soluções tecnológicas para facilitar a medição e a transação de créditos de carbono no país e garantir que com o crescimento no setor seja possível atuar de forma regulamentada e segura e proporcionar às indústrias e empresas meios de mitigar suas emissões..
|| Texto: Anderson Machado | Jornalista | comunicacao@abcarbon.org.br ||