Com a crescente preocupação com a mudança climática, as energias renováveis têm sido cada vez mais vistas como uma solução para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, o mercado de crédito de carbono se apresenta como uma forma de rentabilizar as emissões evitadas pelas empresas e incentivar a adoção dessas fontes de energia. O Brasil é um país com grande potencial para a geração de créditos de carbono a partir de fontes renováveis, principalmente a partir da geração de energia eólica e solar. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, a capacidade instalada de energia eólica no Brasil cresceu cerca de 10% em 2022, alcançando um total de 20,5 GW. Já a capacidade instalada de energia solar cresceu 32%, chegando a um total de 10,6 GW.
Essa expansão da geração de energia limpa no país tem um grande potencial de gerar créditos de carbono, já que a eletricidade produzida a partir de fontes renováveis é considerada “limpa” em comparação à energia gerada a partir de combustíveis fósseis. De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a geração de energia renovável pode gerar até 10 vezes mais créditos de carbono do que a geração de energia a partir de combustíveis fósseis.
A Associação Brasileira de Crédito de Carbono e Metano (Abcarbon) tem atuado de forma ativa nesse cenário, apoiando iniciativas que visam incentivar a adoção de fontes renováveis e rentabilizar as emissões evitadas pelas empresas. Em seu site, a associação destaca que, além da energia eólica e solar, a biomassa, a energia hidrelétrica e o biogás também são fontes renováveis que podem gerar créditos de carbono. A associação também destaca a importância do uso de tecnologias de medição e verificação de emissões, como o software utilizado pela própria Abcarbon, que permite a medição e verificação de créditos de carbono de forma precisa e confiável.
Outras iniciativas pelo país estão aproveitando o potencial disponível na natureza. O Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do governo federal tem como objetivo incentivar a adoção de práticas sustentáveis na produção agrícola, visando à redução das emissões de gases do efeito estufa. Dentre as medidas incentivadas pelo programa, destacam-se o uso de técnicas de plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, recuperação de pastagens degradadas e o uso de sistemas agroflorestais. Além de contribuir para a preservação ambiental, a implementação dessas práticas também pode gerar créditos de carbono, que podem ser negociados no mercado internacional e nacional, gerando renda adicional para os produtores rurais.
Outro exemplo de como as energias renováveis podem ser rentabilizadas como crédito de carbono é o programa RE-Power Brazil, que tem como objetivo aumentar a geração de energia renovável no país. Segundo dados do programa, em 2022, a geração de energia eólica no Brasil foi responsável por evitar a emissão de cerca de 16,8 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a mais de 3,6 milhões de carros em um ano. Com a possibilidade de venda desses créditos de carbono, empresas que investem em projetos de energia eólica podem ter uma fonte de receita adicional.
Em 2022, a empresa Casa dos Ventos anunciou a venda de créditos de carbono referentes a uma usina eólica em operação no estado do Piauí. A comercialização dos créditos foi feita no mercado voluntário, a um preço de cerca de US$ 4 por tonelada de CO2 equivalente. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o Brasil deve atingir 30 GW de capacidade instalada de energia eólica até 2025, o que pode gerar cerca de 20 milhões de créditos de carbono por ano, através do mecanismo de Redução Certificada de Emissões (RCEs).
Outra fonte renovável que tem ganhado destaque é a energia solar. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, mais de 70% da energia prevista para entrar em operação nos próximos anos virá de placas solares. Muito desse crescimento desta matriz poderá vir de de projetos de geração distribuída, pelo aumento de consumidores que estão gerando energia em suas propriedades e residências. E as comercializações já estão acontecendo. Em 2023, a empresa EDP Renováveis Brasil anunciou a venda de créditos de carbono referentes a uma usina solar em Minas Gerais, no valor de cerca de US$ 5 por tonelada de CO2 equivalente.
Outro exemplo é o projeto fotovoltaico de Tabajara, no Ceará, que tem capacidade instalada de 162 MW e evita a emissão de cerca de 179 mil toneladas de CO2 por ano. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a capacidade instalada de energia solar no país deve dobrar até o final de 2023, passando de 11,9 GW em 2022 para cerca de 23 GW.
Além dos exemplos citados anteriormente, outras fontes de energia limpa e renovável também podem gerar créditos de carbono. A energia hidrelétrica, por exemplo, é uma das principais fontes de energia elétrica do Brasil e pode gerar créditos de carbono por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa que ocorreriam se a eletricidade fosse gerada a partir de fontes de energia fóssil. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Limpa (ABEEL), a energia hidrelétrica é responsável por evitar a emissão de mais de 50 milhões de toneladas de CO2 por ano no país.
A transição energética para fontes renováveis é um caminho essencial para mitigar os impactos da mudança climática. Ao incentivar a adoção dessas fontes de energia e rentabilizar as emissões evitadas, o mercado de crédito de carbono pode contribuir para a construção de um futuro mais sustentável. E a Abcarbon, por meio de suas iniciativas, tem se posicionado de forma ativa nesse cenário para fomentar a geração de créditos de carbono a partir de tecnologias limpas e incentivar o aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira.
|| Texto: Anderson Machado | Jornalista | comunicacao@abcarbon.org.br ||