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A importância da transparência no mercado de crédito de carbono

Recentemente, uma investigação do jornal The Guardian levantou dúvidas sobre o mercado voluntário de carbono. A reportagem afirmou que mais de 90% dos projetos usados para a compensação de créditos por uma das principais certificadoras atuantes no mundo falham nas verificações de sustentabilidade, e estariam emitindo “prováveis créditos fantasmas” que “não representavam reduções genuínas de carbono”, apresentando “sérios riscos de permanência”.

A revista The Drum repercutiu o caso em em um artigo no qual cobra transparência para garantir as boas políticas nas negociações. A falta de critérios claros fragiliza a consolidação dos protocolos internacionais que previam a compensação entre empresas e entidades, para além do mercado regulado, onde participam os governos. Pela proposta, as empresas usam os créditos de carbono de fornecedores terceirizados para compensar a poluição que geram, pagando uma taxa por algum projeto ambiental como o plantio de árvores, por exemplo.

O problema denunciado pelos dois artigos é o uso de certificações de crédito presumido, supondo que eles seriam gerados futuramente, porém sem oferecer informações claras sobre a origem dos créditos e os projetos associados a eles. Isso dificulta aos compradores avaliarem a validade da operação, não tendo garantias concretas sobre a real redução das emissões de gases que estariam compensando com a operação.

O The Drum também faz um alerta para a postura de algumas das empresas que usam dos créditos como marketing sem a devida comprovação, o que alimentaria a chamada “lavagem verde”, de não garantir a compensação efetiva mas utilizarem em suas publicidades a imagem (falsa) de que estariam fazendo emissão zero.

Para garantir a transparência no mercado de crédito de carbono, é importante que as empresas adotem padrões rigorosos e transparentes para a certificação. A Associação Brasileira de Crédito de Carbono e Metano (Abcarbon) tem defendido essa postura em seu trabalho de regulação no país. A entidade já iniciou a emitir certificações levando em conta os créditos já existentes na área, a partir da leitura de imagens de satélite por software com inteligência artificial. O sistema gera um relatório específico para área, que considera inclusive os dados públicos da propriedade a partir do Cadastro Ambiental Rural (CAR), uma identificação única para o lote.

Para o vice-presidente da Abcarbon, Thiago de Sá, isso diferencia o modelo de certificação gerado pela entidade: “A transparência é importante para ter a confiabilidade no sistema. Precisamos saber se esses créditos foram realmente gerados de uma fonte confiável e segura, e que realmente vai estar mitigando os gases lançados na atmosfera. A Abcarbon vem trabalhando nesse sentido. Hoje nossas certificações já são codificadas para rastreabilidade, garantir que as pessoas possam conferir a fonte dos créditos e verificar se estão dentro dos protocolos de geração de créditos”.

Com transparência e rigor é possível resgatar a confiança dos investidores e dos proprietários de áreas rurais e urbanas disponíveis para a compensação. O mercado voluntário é um esforço importante para diminuir o aquecimento global. Com boas práticas e responsabilidade, será possível superar essa crise para o sistema de créditos e impulsionar projetos consistentes de sustentabilidade ambiental e econômica e contribuir efetivamente para o combate às mudanças climáticas.

|| Texto: Anderson Machado | Jornalista | comunicacao@abcarbon.org.br ||

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